Esta escultura, de uma velha bêbada, mostra sem reservas uma mulher envelhecida, cheia de rugas e com a face contorcida, agarrada a um vaso de vinho, contornando belos ornamentos. Data de 190 a.C., sendo atribuida a sua criação, a um tal de Myron.
Costumo dizer, que nos apaixonamos simplesmente por aquilo que achamos perfeito, e eu apaixonei-me por esta imagem, toda a sua expressividade, os seus contornos, o seu simbolismo, o facto de ser estática mas com um "movimento" perpétuo, tudo é extra-ordinário.
Ela impera até doer!
Vem isto a propósito de uma visão que mudou toda a minha maneira de pensar a vida. Há cerca de dois anos, numa véspera de Natal, indo buscar uns amigos para um jantar, deparei-me com um triste mulher, já velha, completamente bêbada, agachada na beira de um caminho, abandonada, isolada de todo o mundo, absolutamente só! Nem gosto de pensar nisso, doeu-me mais a mim do que, possivelmente, a dor que sentia ela naquele momento. Foi tão triste, inesquecível!Inimaginável!
O certo é que, por insistência, cuidamos de chamar a família ou alguém que acudisse. Aquilo mexeu comigo, fez-me sair da redoma em que se encontrava a minha vida, e ver que vivemos num mundo de dor e sofrimento. É incompreensível.
Nunca mais soube dessa pobre mulher, ás vezes acredito que foi apenas uma visão, qual Sidharta e as suas visões fugases, mas não, foi antes uma premonição acerca da vida e da realidade, que é tão dura... Porque será que o belo se associa, ou recorre, tantas vezes á dor?
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