
A base de toda a sua filosofia é uma recusa: o determinismo científico, na sua interpretação positivista, negava, sem razão, a liberdade humana. A sua obra Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, de 1889, trata precisamente do conceito de liberdade e visa refutar a ideia de que a liberdade humana não existe.
Para Bergson, aqueles que negam a liberdade, esquecem-se - nos seus métodos de análise científica - da duração. Estes autores confundem a qualidade com a quantidade. Fazer cálculos sobre as sensações é esquecer a sua natureza qualitativa, porque aquilo que sentimos, aquilo que vivemos é de uma natureza diferente a cada vez, e a diferença entre duas sensações, é uma diferença de natureza e não uma diferença de grau de uma mesma sensação base.
Para Bergson, se a qualidade era confundida com a quantidade, então daí resultam várias outras confusões: a duração é espacializada; o movimento é confundido com a trajectória efectuada; a liberdade é confundida com a escolha entre duas soluções, isto é, com o livre-arbítrio. O erro do determinismo psicológico é crer que os factos da consciência sucedem-se necessariamente, como os efeitos sucedem-se às causa. A chave para a correcção do erro dos evolucionistas naturalistas é precisamente o conceito de duração.
Em Bergson, o tempo real - que tem um papel fundamental na filosofia da evolução - escapa às ciências matemáticas. Aquilo que Bergson fará é transformar um evolucionismo naturalista num evolucionismo espiritualista, que identifica o processo contínuo, incessante e progressivo da evolução com o devir temporal da consciência.
A duração real é o dado da consciência. A existência espiritual é uma mudança incessante que varia permanentemente. A duração é o processo contínuo do passado que rói o futuro e cresce à medida que avança. Cada momento, embora seja o resultado de todos os momentos anteriores, é absolutamente novo em relação a eles. Existir é criar-se indefinidamente a si mesmo.
Esta vida espiritual é, essencialmente, autocriação e liberdade. Não é possível reduzir a duração da consciência ao tempo homogéneo de que fala a ciência, o qual é constituído por instantes iguais que se sucedem. O tempo da ciência é um tempo especializado e que perdeu por isso o seu carácter original.
Para Bergson, somos verdadeiramente livres quando os nossos actos emanam da nossa personalidade inteira. Os actos livres nunca são previsíveis, porque o eu não é a causa deles, dado que não se distingue deles, senão que vive e se constitui neles.
A liberdade é indefinível, porque coincide com o próprio processo da vida consciente. Defini-la seria transferi-la para o plano da consideração espacial e dos objectos físicos, mas aqui não existe senão o determinismo, porque desapareceu precisamente o que constitui a consciência: a duração.

1 comentário:
Boa tarde,Hélder gostei muito do resumo de 'Tempo e Livre-árbitro.
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