«Na antiga Grécia, existia um inviolável código de paz, enviado por Zeus, ao qual estavam abrangidos homens e deuses. É a obrigação de receber bem todo e qualquer estrangeiro, de prestar cuidados, auxilio, hospitalidade.
Qualquer pessoa, viajante, de passagem, bastava bater á porta, da forma mais prosaica do mundo, e seria recebido directamente pelo dono da casa. Este, abstendo-se de qualquer inquérito prévio, de forma a não configurar interesse mercantil, imediatamente disponibilizava uma escrava que, com uma bacia de água, sabão e panos limpos, oferecia ao estrangeiro para higiene e conforto inicial. O visitante lavava o rosto, as mãos e era imediatamente conduzido aos seus aposentos. Lá, encontrava acomodações e roupas limpas. O seu cavalo era tratado. O dono da casa instruía todos sobre a cordialidade para com o hóspede e durante cerca de dois ou três dias, era um banquete apreciável. Disponibilizava-se o que de melhor havia na casa: pães, azeites, frutas raras, vinho, faizões e cordeiros.
Ao fim destes dois ou três dias de festejos e fartura, finalmente o hóspede sentia-se compelido a, diante do seu anfitrião, da mulher deste e dos filhos, falar sobre a sua origem, os seus pais, a sua terra e, principalmente, o propósito da sua visita. Este propósito poderia ser uma simples viagem, algum interesse comercial, um comunicado importante, um chamado, um circunstancial e delicado momento de necessidade pecuniária, etc.
Não havendo relato e portanto ressonância de uma hospitalidade anterior, de qualquer modo, estava semeada a Paz. O anfitrião tinha como certo, o digno recebimento de algum dos seus em terras estrangeiras. Nessas ocasiões, muitas vezes, ocorria a rememoração de que algum ancestral, parente, amigo ou conhecido do anfitrião havia recebido hospitalidade por parte dos pais, parentes ou amigos do visitante e, nesses instantes, a camaradagem era sobreposta a tudo o mais. Celebrava-se e brindava-se ao 'pagamento' da Paz com a Paz. O hóspede, agradecido, despedia-se e prosseguia no seu caminho. O anfitrião sentia-se enobrecido por ter semeado ou simplesmente, selado a paz, perpectuado-a através do seu honroso gesto.
Nem sempre imperava a Paz nesse acordo tácito. Não eram raras vezes em que o viajante encantava-se com a esposa ou com uma das filhas do seu anfitrião. Acaso acontecesse, estava declarada a guerra.
Ser acolhido, bem recebido, e retribuir toda a distinção e apreço com uma aviltante traição era inadmissível! Violar uma regra sagrada era incitar á guerra!
Narra Homero, na Ilíada, que Páris, irmão de Heitor, filhos de Príamo e Hácuba, Reis de Tróia, violou essa lei. Ao sequestrar Helena, mulher de Menelau (mesmo tendo ido por sua livre e espontânea vontade) selou o trágico fim de uma dinastia. Todos os Gregos se aliaram a Menelau, irmão de Agamémnon, Rei de Esparta, para a guerra. Tróia foi destruída. Sucumbiu por ter incorrido no erra de ter acobertado o mais famoso adultério da história do mundo antigo. Tróia atraiu a guerra.»
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Um texto de Luciene Félix - professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana da ESDC.
Qualquer pessoa, viajante, de passagem, bastava bater á porta, da forma mais prosaica do mundo, e seria recebido directamente pelo dono da casa. Este, abstendo-se de qualquer inquérito prévio, de forma a não configurar interesse mercantil, imediatamente disponibilizava uma escrava que, com uma bacia de água, sabão e panos limpos, oferecia ao estrangeiro para higiene e conforto inicial. O visitante lavava o rosto, as mãos e era imediatamente conduzido aos seus aposentos. Lá, encontrava acomodações e roupas limpas. O seu cavalo era tratado. O dono da casa instruía todos sobre a cordialidade para com o hóspede e durante cerca de dois ou três dias, era um banquete apreciável. Disponibilizava-se o que de melhor havia na casa: pães, azeites, frutas raras, vinho, faizões e cordeiros.
Ao fim destes dois ou três dias de festejos e fartura, finalmente o hóspede sentia-se compelido a, diante do seu anfitrião, da mulher deste e dos filhos, falar sobre a sua origem, os seus pais, a sua terra e, principalmente, o propósito da sua visita. Este propósito poderia ser uma simples viagem, algum interesse comercial, um comunicado importante, um chamado, um circunstancial e delicado momento de necessidade pecuniária, etc.
Não havendo relato e portanto ressonância de uma hospitalidade anterior, de qualquer modo, estava semeada a Paz. O anfitrião tinha como certo, o digno recebimento de algum dos seus em terras estrangeiras. Nessas ocasiões, muitas vezes, ocorria a rememoração de que algum ancestral, parente, amigo ou conhecido do anfitrião havia recebido hospitalidade por parte dos pais, parentes ou amigos do visitante e, nesses instantes, a camaradagem era sobreposta a tudo o mais. Celebrava-se e brindava-se ao 'pagamento' da Paz com a Paz. O hóspede, agradecido, despedia-se e prosseguia no seu caminho. O anfitrião sentia-se enobrecido por ter semeado ou simplesmente, selado a paz, perpectuado-a através do seu honroso gesto.
Nem sempre imperava a Paz nesse acordo tácito. Não eram raras vezes em que o viajante encantava-se com a esposa ou com uma das filhas do seu anfitrião. Acaso acontecesse, estava declarada a guerra.
Ser acolhido, bem recebido, e retribuir toda a distinção e apreço com uma aviltante traição era inadmissível! Violar uma regra sagrada era incitar á guerra!
Narra Homero, na Ilíada, que Páris, irmão de Heitor, filhos de Príamo e Hácuba, Reis de Tróia, violou essa lei. Ao sequestrar Helena, mulher de Menelau (mesmo tendo ido por sua livre e espontânea vontade) selou o trágico fim de uma dinastia. Todos os Gregos se aliaram a Menelau, irmão de Agamémnon, Rei de Esparta, para a guerra. Tróia foi destruída. Sucumbiu por ter incorrido no erra de ter acobertado o mais famoso adultério da história do mundo antigo. Tróia atraiu a guerra.»
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Um texto de Luciene Félix - professora de Filosofia e Mitologia Greco-romana da ESDC.
1 comentário:
Fico feliz em me deparar com esse texto! Conheçam meu Blog: www.lucienefelix.blogspot.com
Estou certa de que irão apreciar muitíssimo. Grata, Luciene.
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