sexta-feira, 21 de março de 2008

Katsushika Hokusai (1760-1849)

Há uns anos vi-me confrontado com uma curiosa história acerca de um quadro misterioso.


Não vou falar desse assunto porque acho que há mistérios insondáveis que merecem permanecer na penumbra das memórias. De qualquer forma, o quadro referido na história chamava-se The Great Wave - Kanagawa oki nami ura, e pertence ao mais famoso e enigmático dos pintores japoneses, K. Hokusai.


Foi nessa altura que descobri este magnífico pintor que retrata na perfeição os caminhos simples do homem, do tempo e do espaço que o rodeia. É um Japão do Séc. XVIII E XIX que se vislumbra nestas telas geniais que nos fazem perceber uma orientalidade mística e um sentido dislumbrante da beleza simples do mundo. É uma alucinação em acto e uma perfeição em potência.



A este propósito, acaba de sair uma edição da Prestel de, «HOKUSAI - Prints and Drawwings» de Matthi Forrer, que compacta em 230 páginas as obras mais emblemáticas do autor e o seu percurso estilístico num contexto subjectivo de compreensão e significação.



Absolutamente recomendado!!!



quarta-feira, 5 de março de 2008

Reflexão


Quando a vida vive de ameaças, tudo acaba mal...


O caminho faz-se a cada momento e percorre-se andando. Nós, ou somos boas pessoas e ajudamos, ou somos absurdamente ignorantes e atrapalhamos. É uma escolha única.


Ninguém precisa de se depreciar tanto, ao ponto de se considerar superior ao outro. Enevoada, a verdade está sempre encoberta em falsos pressupostos irracionais, nos quais a mentira se revela.

A mentira em si, é inofensiva, o mentiroso é um parvo, e a culpa é somente daquele que acredita na ignomínia.


Estamos na luta, continuamos a lutar e venceremos!

domingo, 2 de março de 2008

O Libanês


Khalil Gibran foi, sem dúvida, o maior poeta e pensador da história recente do Libano. Nascido em 1883, mergulhou nas profundezas do espírito do homem, na essência e na sua condição, reflectindo profundamente acerca da vida e do seu significado. Viveu em Paris, conhecendo e convivendo com Rodin, Debussy e Edmond Rostand. Para a história, fica a sua capacidade de compreender a problemática necessidade do homem conhecer a sua condição humana, social e religiosa. Morreu em 1931, deixando para a posteridade a sua obra-prima O Profeta.

Ao lermos toda a sua obra, tenderemos a dar razão a Derrida quando diz que escrever é um acto "autobiotanatográfico", ou seja: o autor escreve de si, sobre si e para si e a sua escrita é um acto de morte, é algo que se perde, que se arranca ao seu ser para contemplar a humanidade.

Deixo-vos um seu magnífico texto sobre a amizade, a quem dedico a uma amiga muito especial, que foi contemplada com o prazer de gerar vida na sua própria vida.

A Amizade

Um jovem disse: Fala-nos da Amizade.

- O vosso amigo é a resposta ás vossas necessidades. É o vosso campo semeado com dedicação e amor. É a vossa mesa e a vossa casa, porque recorreis a ele para saciar a vossa fome e para vos recolher na paz da sua amizade.

Quando o vosso amigo revela o seu pensamento, não temais o não do vosso próprio espírito, nem lhe recuseis o sim. E quando ele estiver silencioso escutai com o coração o que ele diz.

Porque na amizade todos os pensamentos, todos os desejos, todos os sonhos nascem sem palavras e partilham-se numa alegria de silêncio.

E quando tiverdes que vos separar do vosso amigo não vos preocupeis, porque aquilo que mais amais nele fica ainda mais claro na sua ausência, como para o alpinista para quem a montanha é muito mais nítida quando a olha da planície.

É que não há outro fim na amizade a não ser o aprofundamento do espírito. Como o amor que busca algo mais além da revelação do seu próprio mistério, não é amor, mas uma rede atirada onde apenas o inútil fica preso, é que o melhor de vós deve ser oferecido ao amigo.

Se ele tem de conhecer o refluxo da vossa maré, que conheça também o fluxo. pois, para que servirá o amigo se o procurais apenas para matar o vosso tempo?

Buscai-o antes nas horas vivas, porque ele está ali para resolver a vossa necessidade de consolo e não para encher o vosso vazio.

E que na doçura da vossa amizade exista também o riso e os pequenos prazeres partilhados. Porque no orvalho das pequenas coisas é que o coração encontra a sua manhã e a sua frescura.

Fonte: Poesia mais-que-perfeita, Alma Azul, 2005