quinta-feira, 22 de outubro de 2009

FRENTE SOLIDARIEDADE

Esta postagem é nada comparada com a obrigatoriedade de todos os portugueses em reconhecer publicamente o génio de José Saramago.
Como todos os grandes escritores, ele também é um escritor maldito, consequência da sua genialidade e da sua coragem.
Honras devem ser cantadas ao nobre escritor português, que tanto orgulho faz brotar nos corações dos seus concidadãos.
O País tem uma dívida de gratidão para aquele que mais amou, e como amou demais, doeu!
Devemos a José Saramago o agitar de águas, que faz sair as sombras do tenebroso mito para a luminosa racionalidade. Ele tem razão e ninguém o pode negar!
Parabens Saramago por mais um grande livro. Caim ficará na história!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

E TUDO ASSIM VAI


Há não-acontecimentos absolutamente geniais. O último caso deve-se a esta belíssima senhora, de nome Maitê Proença, neta de português, ao que parece, e profissional de renome e talento inegável.
Acontece, porém, que a dita senhora gravou um vídeo humorístico a satirizar os portugueses, e uma parte significativa das pessoas não gostou. Devo confessar, em primeiro lugar, que sempre admirei o trabalho desta actriz, nomeadamente desde que a vi contracenar no filma A Selva de Leonel Vieira, baseado na obra homónima de Ferreira de Castro, vi e gostei do que vi. Em segundo lugar, não acho que as pessoas devam pessoalizar e individualizar o referido trabalho de sátira e não devam confundir a comédia com a realidade. Em terceiro, algumas virgens ofendidas deste país são precisamente algumas daquelas pessoas que generalizam e estereotipam os brasileiros de: burros, ladrões e prostitutas. Confesso que a conversa me mete nojo. Se bem que é inegável um sentimento mútuo de estranheza, os portugueses e os brasileiros devem compreender que são e vivem realidades completamente distintas, ambos não são uma e a mesma coisa mas sim realidades diferentes; há uma passado em comum, é certo, mas o futuro é o que nos espera, nomeadamente na tentativa de superar a nossa solidão, pois sozinhos não somos nada e, em bases de amizade, construir esse bom futuro. A actriz tem razão, é preciso sabermos rir de nós mesmos, e não vem mal ao mundo a ironia e a sátira serem usadas para a comédia. Não podemos deixar de rir com defeitos que sabemos ter. A verdade é que a porcalheira é evidente e não vou descrever factos, e enquanto os portugueses não se indignarem com quem incivilizadamente permanece na dita pocilga, daremos azo a que se riam de nós. Mas também aqueles que se riem de nós, tendem a esconder os olhos da sua própria realidade.
É preciso não esquecer tudo isto, mas tomar isto como um bom exemplo daquilo que podemos mudar. A culpa não é de Maitê Proença. A comédia, mesmo que insultuosa, não pode ser culpabilizada de nada. É certo que não somos perfeitos, mas a base é melhorar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

POSITIVISMO – Ao Encontro de Teófilo

comte O termo ‘positivismo’ designa três aspectos fundamentais:

a) a convalidação do pensamento cognitivo por meio da experiência factual;

b) a orientação do pensamento cognitivo para as ciências físicas como modelos de certeza e exactidão;

c) a persuasão de que o progresso do conhecimento depende de tal orientação.

Em consequência disto, o positivismo é uma luta contra todas as metafísicas, que são consideradas como pensamentos obscurantistas e regressivos.

O positivismo reconhece na ciência, não só a forma de conhecimento ideal, mas também a única válida.

O positivismo propõe-se vir ao encontro do desejo de entender o domínio do homem sobre a natureza por meio da ciência, e à exigência de organizar, por meio da ciência, o mundo humano.

O positivismo é aparentado com o materialismo: ambos vêem na matéria o princípio supremo, a causa última de toda a realidade.

Augusto Comte, é considerado o pai do positivismo. A parte mais importante do positivismo de Comte reporta ao valor e função da ciência. Mas o intento principal de Comte era elaborar uma filosofia da história baseada no princípio da evolução espontânea e mecânica.

Segundo Comte, todo o universo procede da matéria por via da evolução. Também o homem é produto da evolução da matéria. Quando a evolução atingiu o estádio humano, teve inicio a história, cujas fases principais são a teológica, a metafísica e a positiva, as quais constituem as três etapas fundamentais da história da humanidade.

Na época teológica, o homem explica os fenómenos naturais recorrendo a causas sobrenaturais; na época metafísica, explica os mesmos fenómenos recorrendo a princípios recônditos como a substância, essêncis, etc.; na época positiva, procura uma explicação científica por meio das leis naturais, as quais explicam por si só (sem necessidade de recorrer a Deus ou a princípios metafísicos) todos os fenómenos que constatamos.

Todos os ramos da história e do conhecimento humano passam por estes três estados.

Um dos aspectos mais originais do pensamento Comtiano diz respeito á função da filosofia.

Esta, é a forma mais alta do saber, a ciência suprema, mas não porque tenha um objecto distinto, superior ao objecto das outras ciências. A filosofia não é superior ás outras ciências no que se refere ao objecto. Segundo Comte, não existe nenhum outro objecto além dos objectos particulares estudados pelas outras ciências; além da realidade empírica não existe nenhuma realidade metaempírica; além da realidade física não existe uma realidade metafísica, divina, reservada ao estudo da filosofia.

A filosofia é a rainha de todas as ciências porque as dirige a todas.

Segundo Comte, a tarefa da filosofia é classificar as ciências, determinar os seus limites, julgar os seus progressos. A função da filosofia não é conhecer este ou aquele objecto particular, mas dirigir as ciências nas suas pesquisas.

A filosofia possui uma dimensão normativa que é orientar as outras ciências.

teofilo

Teófilo segue a orientação positivista de Comte ao reduzir a filosofia a uma sistematização racional do universo, conforme o afirma na sua obra, Traços Gerais da Philosophia Positiva : «a filosofia propriamente dita é: uma síntese do universo formada sobre todas as leis verificáveis da ordem biológica e moral, tendente a fortificar a consciência humana pela separação entre o desconhecido (aquilo que não se conhece) e o incognoscível (aquilo que é impossível de conhecer)».

Teófilo prossegue expondo as concepções de Comte referentes á filosofia quanto à origem, ao objecto e quanto ao seu fim, defendendo que:

  1. Quanto à origem – Comte defende que é impossível formar uma filosofia geral sobre especulações sem realidade, logo, a filosofia resulta ou tira a sua origem das ciências, de verdades concretas que levam depois ao estado de abstracção (que é origem de todo o progresso cognitivo, segundo aristóteles) sem o qual as ciências não progrediriam.
  2. Quanto ao objecto – a filosofia tem em vista estabelecer a necessária distinção entre o desconhecido e o incognoscível. A filosofia visa organizar as descobertas sucessivas do mundo exterior, físico, e as descobertas do mundo moral relacionando sempre a mútua dependência destas duas ordens do conhecimento.
  3. Quanto so seu fim – a filosofia «alarga as nossas forças intelectuais, e eleva-nos a uma compreensão mais alta das nossas relações físicas e animais com o universo. A filosofia tem a finalidade de permitir a perfectibilidade do homem e dar capacidade ao mesmo para atingir a perfeição nas suas criações.

É desta finalidade que surge a necessidade de impor um estado positivo, capaz de fazer o homem superar a sua menoridade aparente a atingir a excelência da sua natureza.

É desta compreensão da origem, objecto e fim da filosofia que se impõe a necessidade de expor e compreender as várias fases filosóficas porque tem passado a inteligência humana e através deste exercício fixar as bases de uma filosofia capaz de possuir um carácter geral e capaz de assegurar verdades incontestáveis.

A ordem progressiva do espírito humano leva-nos a três diferentes estados:

1. ESTADO TEOLÓGICO OU FICTÍCIO

[PAG. 25] «Antes da observação dos phenomenos, a mente do homem foi absorvida na sua contemplação; a actividade da imaginação foi suscitada pelas apparencias do mundo exterior, e quando a razão começou a discriminar [diferenciar, distinguir], já o hábito de tomar a apparencia como uma realidade falsificava os meios de conhecimento da pura realidade. [neste estado teologico, estamos limitados pelo habito de tomarmos a aparencia como realidade] Ora, é n’este estado de espírito que nos apparecem os mais vastos systemas de explicação do universo[nomeadamente as teogonias[genealogias e filiação dos deuses] e cosmogonias[criações do mundo].» [...] «o homem entra em todos os intuitos de cada phenomeno, forma uma theoria para cada força, determina ao certo o porquê da sua existência, o para quê da sua manifestação ou finalidade.» [...] «Não existia sciencia, e pelo seu systema de explicações universaes e absolutas, bem se vê que entre a multiplicidade dos problemas que a intelligencia humana é susceptível de propôr ainda não surgira a distincção disciplinadora entre o cognoscível e o incognoscível.» [Neste estado não existe uma capacidade de distinção, que é essencial para se fazer ciência, entre aquilo que se pode conhecer e aquilo que é impossível de se conhecer. É este estado de incapacidade de distinguir os fenómenos e procurar explicá-los racionalmente que leva á predominancia da imaginação sobre a razão.

2. ESTADO METAFÍSICO OU ABSTRACTO

Este estado apresenta um notável progresso no desenvolvimento da humanidade pois, embora se continue a indagar sobre o porquê das coisas, o princípio da explicação já não se coloca em presumíveis realidades divinas e fora da natureza, mas nas próprias coisas são imutáveis e necessárias na medida em que estas actuam de acordo com propriedades, entidades abstractas ou poderes naturais. A própria natureza contem, pois, a capacidade de explicação dos fenómenos.

O conhecimento continua a ter um carácter absoluto, na medida em que as entidades ou propriedades das coisas são imutáveis e necessárias, e estão livres da relatividade e circunstância de cada coisa em concreto. A redução das causas transcendentes e sobrenaturais a princípios inseridos na natureza das próprias coisas significa uma certa racionalização do conhecimento; no entanto este, continua a sobrepor-se ao poder da imaginação, que cria e crê em semelhantes entidades.

Apesar das suas deficiências, o estado metafísico supera o estado teológico e serve de prepraração para o estado positivo.

3. ESTADO POSITIVO OU REAL

É o ultimo estado do desenvolvimento do espírito humano e, no entender de Comte, o estado definitivo em que a humanidade irá perdurar. Entra-se nele quando o homem abandona a interrogação sobre o porquê dos fenómenos e afasta as pseudoquestões teológicas e metafísicas pela sua falta de utilidade e proveito para a nova sociedade positivista. Agora já não se pergunta pela causa ou essência das coisas, mas pelo modo como se dão os fenómenos e pela regularidade ou lei em que ocorrem.

O conhecimento terá um carácter relativo e o exercício da imaginação é substituido por um saber da razão, dentro dos limites do que é dado, orientada para a acção operativo-instrumental. É a razão prática da sociedade industrial, que cria e opera sobre a técnica, entendida esta como aplicação da ciência. No estado positivo não se procura pois nenhuma explicação mas uma mera descrição dos fenómenos e das suas regularidades mediante a observação e o raciocínio sobre os factos observados.

 

Este determinismo, juntamente com a previsibilidade, a ordem e o progresso são as pedras basilares do pensamento positivista no movimento das sociedades.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Hasta la vitoria final

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MANCHESTER UNITED 2:2 FC PORTO

Grande jogo e grande vitória da equipa portuguesa nestes quartos de final da champions league.

Efectivamente, o Porto é, «hic et nunc», a única referência grandiosa que transporta Portugal para as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo.

Dá um orgulho indefinível ver um clube português silenciar Old Trafford, remetendo estes britânicos mal resolvidos, para a menoridade da sua existência. Podem ser mais ricos, mais influentes, mais poderosos, mas não são melhores. Obrigado PORTO, até quarta-feira.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Aquele Querido Mês de Agosto

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Depois de Valdivia, São Paulo, Guadalajara e de Las Palmas, o filme «Aquele Querido Mês de Agosto» acaba de ser galadoardo com o prémio de melhor filme estrangeiro do festival de cinema de Buenos Aires.

Confesso que ainda não vi, mas estou à espera do dvd.

De qualquer forma, parece valer a pena. Acho que a nova geração de cinestas deste país está realmente empenhada em mudar o panorama cinematográfico. Já não era sem tempo!

sábado, 7 de março de 2009

Wuthering Heights

 

43303 42972Obra maior da literatura Inglesa, «O Monte dos Vendavais» ou «Abismos de Pasion», como lhe chamou Buñuel, é um assombro, talvez seja a maior história de amor da literatura mundial. O Amor cruel, louco, imortal, destrutivo e imoral de Kathy e Heathcliff ficará para a história das letras como o mais profundo e sincero alguma vez retractado pelo homem. É a demonstração de genialidade artística de Emily Brontë. Heathcliff jamais sairá da nossa memória, onde permanece com um carinho, uma ternura e uma compreensão estranha. Como é possível gostar de Heathcliff? Estranho é que a razão nos faz gostar dele, mesmo sendo cruel, frio e duro como o rochedo mais exposto á névoa invernal. Heathcliff simboliza o verdadeiro homem nas profundezas da injustiça, da solidão, do ciúme e da cólera. Mas ele será sempre o nosso herói.

Os ventos uivantes trazem sempre notícias duras para o homem. Lembra-lhe sempre a sua menoridade, a sua insignificância perante a natureza e perante os sentimentos. O homem não controla nada, é sempre devastado pela sua própria volitude.

Wuthering Heights é o relato figurado da realidade do mundo e da condição humana. Retracta o homem perante o seu espelho, perante a sua própria imagem.

O arrependimento fez de Catherine uma grande mulher, mas Heathcliff permanecerá sempre na nossa memória. Ele simboliza nós mesmos perante a nossa própria condição.

Para quem não leu e para quem não viu, é absolutamente obrigatório.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Tratado do Ser

por Ibn ‘Arabi

Ibn_Arabi “Em nome de Deus, o Misericordioso, o Beneficiente e a Quem pedimos auxílio: louvado seja Deus perante cuja unidade não houve um antes, excepto que o Antes seja Ele e depois de cuja unicidade não há um depois, excepto que o Depois seja Ele. Ele é, e com Ele não há depois nem antes, nem em cima nem em baixo, nem longe nem perto, nem união nem divisão, nem como nem onde nem quando, nem tempos nem momento nem idade, nem ser nem lugar. E Ele é agora como Ele era. Ele é o Um sem unidade e o Único sem unicidade. Ele não é composto de nome e denominação, pois o Seu nome é Ele e a Sua denominação é Ele. Por isso não há outro nome que não Ele. E assim Ele é o Nome e a Denominação. Ele é o Primeiro sem primazia e o Último sem ultimidade. Ele é o Exterior sem exterioridade e o Interior sem interioridade. Eu afirmo que Ele é a própria existência do Primeiro e a própria existência do Último e a própria existência do Exterior e a própria existência do Interior. Para que não haja nem primeiro nem último, nem exterior nem interior excepto Ele, sem que estes se tornem n’Ele nem Ele se torne nestes.

Compreende, pois, isso, para que possas evitar cair no erro dos Hululis (que acreditavam nas encarnações de Deus): Ele não está numa coisa nem uma coisa está n’Ele, ou entrando ou procedendo. É necessário que O conheças desta maneira, não pelo conhecimento (‘ilm), nem pelo intelecto, nem pela compreensão, nem pela imaginação, nem pelo sentido, nem pela vista exterior, nem pela vista interior, nem pela percepção. Ninguém O vê excepto Ele próprio. Por Ele próprio se vê e por Ele próprio se conhece. Ninguém O vê a não ser Ele e ninguém O percepciona a não ser Ele. O Seu véu é (apenas uma parte d’) a Sua Unidade. Nada vela que não seja Ele. O seu véu é (apenas) a ocultação da sua existência na Sua unidade, sem qualquer qualidade. Ninguém O vê a não ser Ele – nem Profeta enviado, nem santo perfeito, nem anjo trazido até nós O conhece. O Seu Profeta é Ele e o seu Enviado é Ele e a sua palavra é Ele. Ele enviou-se consigo para Si. Não houve mediador nem qualquer meio que não Ele. Não há diferença entre Aquele que envia e a coisa enviada, e a pessoa enviada e a pessoa a quem é enviada. A própria existência da Mensagem Profética é a Sua existência. não há outro e não há existência para outro que não Ele, nem para a sua cessação de ser (fana’), nem para o seu nome, nem para a sua denominação.”

Ibn ‘Arabi foi um mestre sufi, nascido em Murcia no ano de 1164. É considerado um al-cheikh al-akbar (maior mestre sufi). Estudou Jurisprudência e Teologia Islâmica em Lisboa. Morreu no ano de 1240 em Damas.

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Fonte: Al Funqán – Revista Portuguesa de divulgação do Islamismo

domingo, 4 de janeiro de 2009

A Filosofia Moral de Kant

kant-stamp Kant apresenta-nos uma perpectiva de moral deontológica. É influenciado pelo pietismo, um movimento religioso da igreja luterana que dá especial relevo á fé, á rectidão da vontade e á pureza interior. De Jean-Jacques Rosseau recebe a ideia de que todos os homens são capazes de discernir o bem do mal, e por isso todos são chamado a cumprir o seu dever. E recebe do iluminismo uma nova forma de encarar a razão. Para Kant, existe uma distinção clara entre o homem e o animal, e é a racionalidade que confere ao homem a capacidade de pensar por si mesmo. Servir-se da própria razão é ser autónomo e, portanto, livre. Na ética kantiana, o fundamento para a moral é a razão e para respodermos ás perguntas sobre como devemos agir ou o que devemos fazer, torna-se necessário caracterizar o ser humano.

Para Kant, o ser humano é marcado por uma dualidade: é um ser sensível, um ser da natureza condicionado pelas suas disposições naturais, que o levam á procura do prazer e á fuga da dor. Por outro lado, é um ser racional, ou seja, é capaz de se regular por leis que impõe a si mesmo. Assim sendo, o ser humano é um ser dividido entre a sua inclinação para o prazer e a necessidade de cumprir o dever. Tanto se pode deixar arrastar pelos seus instintos, como determinar-se pela razão. Ao contrário do animal, que está determinado a agir desta ou daquela maneira, o ser humano possui uma margem de liberdade, podendo agir de acordo com princípios que impõe a si mesmo. Assim, só podemos falar em moralidade se considerarmos que o ser humano é um ser livre. É essa liberdade que lhe confere dignidade. Á pergunta de como devemos agir, kant responde que devemos agir de maneira a não sermos governados por impulsos ou instintos naturais, mas sim de maneira a que obedeça aos princípios da razão.

Kant faz da boa vontade a condição de toda a moralidade. A boa vontade é boa pelo seu próprio querer, sendo governada pela razão. A moralidade é concebida independentemente da utilidade ou das consequências que possam advir das acções. É por isso que estamos perante uma ética não consequencialista. Ter saciado a fome a trinta pessoas ou apenas a uma é irrelevante para aferir a moralidade destes actos. Tudo depende da intenção com que as acções em causa foram realizadas. Ora, a intenção é o que caracteriza a vontade. A boa vontade corresponde uma boa intenção.

Para sabermos quando a vontade é boa, kant diz-nos que é boa quando se age por dever. O conceito de dever contém em si o de boa vontade. O dever será uma necessidade de agir por respeito á lei que a razão dá a si mesma. Antes de sabermos essa lei, devemos ter em conta que uma acção pode ser conforme o dever e não ser boa. A pessoa pode agir de acordo com o dever, mas movida por interesses egoístas. É o caso da atitude daquele comerciante que é honesto para com os seus clientes apenas para ter mais lucros. Ele não engana, não rouba, não viola as leis. Exteriormente, a sua acção está de acordo com o que deve ser feito. Mas, ao fazer tudo isso a fim de promover o seu próprio negócio, este comerciante não agiu moralmente bem. A sua acção foi apenas um meio de atingir um fim pessoal. Não agiu por dever.

O valor moral de uma acção reside na intenção. É o sentimento do dever, o respeito pela lei moral, que deve determinar a nossa acção.

Kant procura o fundamento de todas as regras. As leis morais são consideradas como válidas para a vontade de todo o ser racional, enunciando a forma como se deve agir. Neste sentido, podemos afirmar que só a máxima que se possa tornar uma lei universal é que possui valor moral. Kant escreve: «Age segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.

A fórmula kantiana não nos diz para agirmos desta ou daquela maneira, apenas nos indica a forma como devemos agir. Este é o princípio moral fundamental, assumindo a forma de imperativo categórico.

Kant distingue imperativo hipotético e imperativo categórico. Enquanto o hipotético apresenta uma acção como meio para alcançar determinado fim (por exemplo, estuda, se queres tirar boas notas), o imperativo categórico indica que a acção é necessária e boa em si mesma, independentemente dos fins que se possam alcançar com ela.

O imperativo categórico pressupõe que existem fins absolutos. Um fim absoluto é representado pela pessoa humana. Ao contrário das coisas, que têm um preço, a pessoa possui um valor único, possui dignidade. Por conseguinte, o imperativo categórico adquire outra formulação: «Age de tal maneira que uses a dignidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca como meio.

Para Kant, cada indivíduo, enquanto ser racional é autor das leis que impõe a si mesmo. A lei moral, universalmente válida, tem origem na razão e cada indivíduo é legislador e responde por aquilo que faz. A moralidade pressupõe a liberdade. O homem é livre, não quando faz aquilo que lhe apetece, mas sim quando cumpre com o seu dever.

Assim, o ser humano é habitante de dois mundo: o da natureza e o da moralidade, o do determinismo e o da liberdade. O valor moral da acção não reside nas consequências, mas sim na intenção. Centrendo-se no dever e na racionalidade, a ética kantiana é formal, uma vez que não indica regras concretas do agir, mas sim a sua forma, e é também uma ética que não se baseia na procura da felicidade, mas sim na realização da lei moral. 

 

 

 

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Fonte: Filosofia - Guia de estudo, Porto Editora