O termo ‘positivismo’ designa três aspectos fundamentais:
a) a convalidação do pensamento cognitivo por meio da experiência factual;
b) a orientação do pensamento cognitivo para as ciências físicas como modelos de certeza e exactidão;
c) a persuasão de que o progresso do conhecimento depende de tal orientação.
Em consequência disto, o positivismo é uma luta contra todas as metafísicas, que são consideradas como pensamentos obscurantistas e regressivos.
O positivismo reconhece na ciência, não só a forma de conhecimento ideal, mas também a única válida.
O positivismo propõe-se vir ao encontro do desejo de entender o domínio do homem sobre a natureza por meio da ciência, e à exigência de organizar, por meio da ciência, o mundo humano.
O positivismo é aparentado com o materialismo: ambos vêem na matéria o princípio supremo, a causa última de toda a realidade.
Augusto Comte, é considerado o pai do positivismo. A parte mais importante do positivismo de Comte reporta ao valor e função da ciência. Mas o intento principal de Comte era elaborar uma filosofia da história baseada no princípio da evolução espontânea e mecânica.
Segundo Comte, todo o universo procede da matéria por via da evolução. Também o homem é produto da evolução da matéria. Quando a evolução atingiu o estádio humano, teve inicio a história, cujas fases principais são a teológica, a metafísica e a positiva, as quais constituem as três etapas fundamentais da história da humanidade.
Na época teológica, o homem explica os fenómenos naturais recorrendo a causas sobrenaturais; na época metafísica, explica os mesmos fenómenos recorrendo a princípios recônditos como a substância, essêncis, etc.; na época positiva, procura uma explicação científica por meio das leis naturais, as quais explicam por si só (sem necessidade de recorrer a Deus ou a princípios metafísicos) todos os fenómenos que constatamos.
Todos os ramos da história e do conhecimento humano passam por estes três estados.
Um dos aspectos mais originais do pensamento Comtiano diz respeito á função da filosofia.
Esta, é a forma mais alta do saber, a ciência suprema, mas não porque tenha um objecto distinto, superior ao objecto das outras ciências. A filosofia não é superior ás outras ciências no que se refere ao objecto. Segundo Comte, não existe nenhum outro objecto além dos objectos particulares estudados pelas outras ciências; além da realidade empírica não existe nenhuma realidade metaempírica; além da realidade física não existe uma realidade metafísica, divina, reservada ao estudo da filosofia.
A filosofia é a rainha de todas as ciências porque as dirige a todas.
Segundo Comte, a tarefa da filosofia é classificar as ciências, determinar os seus limites, julgar os seus progressos. A função da filosofia não é conhecer este ou aquele objecto particular, mas dirigir as ciências nas suas pesquisas.
A filosofia possui uma dimensão normativa que é orientar as outras ciências.
Teófilo segue a orientação positivista de Comte ao reduzir a filosofia a uma sistematização racional do universo, conforme o afirma na sua obra, Traços Gerais da Philosophia Positiva : «a filosofia propriamente dita é: uma síntese do universo formada sobre todas as leis verificáveis da ordem biológica e moral, tendente a fortificar a consciência humana pela separação entre o desconhecido (aquilo que não se conhece) e o incognoscível (aquilo que é impossível de conhecer)».
Teófilo prossegue expondo as concepções de Comte referentes á filosofia quanto à origem, ao objecto e quanto ao seu fim, defendendo que:
- Quanto à origem – Comte defende que é impossível formar uma filosofia geral sobre especulações sem realidade, logo, a filosofia resulta ou tira a sua origem das ciências, de verdades concretas que levam depois ao estado de abstracção (que é origem de todo o progresso cognitivo, segundo aristóteles) sem o qual as ciências não progrediriam.
- Quanto ao objecto – a filosofia tem em vista estabelecer a necessária distinção entre o desconhecido e o incognoscível. A filosofia visa organizar as descobertas sucessivas do mundo exterior, físico, e as descobertas do mundo moral relacionando sempre a mútua dependência destas duas ordens do conhecimento.
- Quanto so seu fim – a filosofia «alarga as nossas forças intelectuais, e eleva-nos a uma compreensão mais alta das nossas relações físicas e animais com o universo. A filosofia tem a finalidade de permitir a perfectibilidade do homem e dar capacidade ao mesmo para atingir a perfeição nas suas criações.
É desta finalidade que surge a necessidade de impor um estado positivo, capaz de fazer o homem superar a sua menoridade aparente a atingir a excelência da sua natureza.
É desta compreensão da origem, objecto e fim da filosofia que se impõe a necessidade de expor e compreender as várias fases filosóficas porque tem passado a inteligência humana e através deste exercício fixar as bases de uma filosofia capaz de possuir um carácter geral e capaz de assegurar verdades incontestáveis.
A ordem progressiva do espírito humano leva-nos a três diferentes estados:
1. ESTADO TEOLÓGICO OU FICTÍCIO
[PAG. 25] «Antes da observação dos phenomenos, a mente do homem foi absorvida na sua contemplação; a actividade da imaginação foi suscitada pelas apparencias do mundo exterior, e quando a razão começou a discriminar [diferenciar, distinguir], já o hábito de tomar a apparencia como uma realidade falsificava os meios de conhecimento da pura realidade. [neste estado teologico, estamos limitados pelo habito de tomarmos a aparencia como realidade] Ora, é n’este estado de espírito que nos apparecem os mais vastos systemas de explicação do universo[nomeadamente as teogonias[genealogias e filiação dos deuses] e cosmogonias[criações do mundo].» [...] «o homem entra em todos os intuitos de cada phenomeno, forma uma theoria para cada força, determina ao certo o porquê da sua existência, o para quê da sua manifestação ou finalidade.» [...] «Não existia sciencia, e pelo seu systema de explicações universaes e absolutas, bem se vê que entre a multiplicidade dos problemas que a intelligencia humana é susceptível de propôr ainda não surgira a distincção disciplinadora entre o cognoscível e o incognoscível.» [Neste estado não existe uma capacidade de distinção, que é essencial para se fazer ciência, entre aquilo que se pode conhecer e aquilo que é impossível de se conhecer. É este estado de incapacidade de distinguir os fenómenos e procurar explicá-los racionalmente que leva á predominancia da imaginação sobre a razão.
2. ESTADO METAFÍSICO OU ABSTRACTO
Este estado apresenta um notável progresso no desenvolvimento da humanidade pois, embora se continue a indagar sobre o porquê das coisas, o princípio da explicação já não se coloca em presumíveis realidades divinas e fora da natureza, mas nas próprias coisas são imutáveis e necessárias na medida em que estas actuam de acordo com propriedades, entidades abstractas ou poderes naturais. A própria natureza contem, pois, a capacidade de explicação dos fenómenos.
O conhecimento continua a ter um carácter absoluto, na medida em que as entidades ou propriedades das coisas são imutáveis e necessárias, e estão livres da relatividade e circunstância de cada coisa em concreto. A redução das causas transcendentes e sobrenaturais a princípios inseridos na natureza das próprias coisas significa uma certa racionalização do conhecimento; no entanto este, continua a sobrepor-se ao poder da imaginação, que cria e crê em semelhantes entidades.
Apesar das suas deficiências, o estado metafísico supera o estado teológico e serve de prepraração para o estado positivo.
3. ESTADO POSITIVO OU REAL
É o ultimo estado do desenvolvimento do espírito humano e, no entender de Comte, o estado definitivo em que a humanidade irá perdurar. Entra-se nele quando o homem abandona a interrogação sobre o porquê dos fenómenos e afasta as pseudoquestões teológicas e metafísicas pela sua falta de utilidade e proveito para a nova sociedade positivista. Agora já não se pergunta pela causa ou essência das coisas, mas pelo modo como se dão os fenómenos e pela regularidade ou lei em que ocorrem.
O conhecimento terá um carácter relativo e o exercício da imaginação é substituido por um saber da razão, dentro dos limites do que é dado, orientada para a acção operativo-instrumental. É a razão prática da sociedade industrial, que cria e opera sobre a técnica, entendida esta como aplicação da ciência. No estado positivo não se procura pois nenhuma explicação mas uma mera descrição dos fenómenos e das suas regularidades mediante a observação e o raciocínio sobre os factos observados.
Este determinismo, juntamente com a previsibilidade, a ordem e o progresso são as pedras basilares do pensamento positivista no movimento das sociedades.